Céu azul
Manhã fria
O trinar dos pássaros anunciando o alvorecer
Uma tênue névoa cobrindo o capinzal
Colinas várzeas verdejantes
Rios de águas cristalinas
Olarias desativadas
A capelinha em ruínas
Na nave o zinzilular das andorinhas
É o chirriado das corujas
Uma picada sinuosa
Trilhos de aço
Ouve-se o apito
Chega a composição
É 28 de Julho de 1877
Italianos pisam o solo
Ferramentas de trabalho aos ombros
Enxadas, pás, picaretas, alfanje
Vaporando a locomotiva segue viagem
Silêncio…
Sibila o vento por entre o mato fino
Murmuram as águas dos rios
Atônitos contemplam o panorama verde de fundo azul
Lágrimas rolam pela face
Perde-se no espaço o chio de alguns animais
No silêncio o gorjear dos pássaros
Plumagem colorida e brilhante
Saltitam de galho em galho
Papa-capins, pintassilgos, canários, sanhaços,
Tizius, bem-te-vis, sem fins
Os pássaros-pretos se fazem ouvir com enérgico
Canto assobiado
E a melodia dos canários
E o cantarolar melancólico dos tico-ticos
A gritaria alegre dos periquitos
Os papa-capins participam com o musical agudo e delicado
No capinzal o alarido suave dos bicos-de-lacre
Os canários-do-campo soltam suas clarinadas
Com voz onomatopeica pixoxós, bem-te-vis,
Interferem na orquestração
O tiziu com seu cantarolar acrobático
Os cantos das cigarras emolduram o coro da passarada
É a sinfonia louvando a natureza
Os colibris estáticos no ar beijam as flores silvestres
Borboletas multicoloridas dançam sobra as capoeiras
Com este esplendor, os imigrantes são recepcionados
A trilha os conduz à capela
Reconstroem-na com fé
Na cruz de Cristo, brasileiros e italianos se congregam
As duas raças se irmanam
A noite é despertada pelo coaxar das rãs
Aqui, acolá o cricrilar dos grilos
É o silvo das serpentes
É o grito metálico dos sapos
É o pirilampo enfeitando o negrume da noite
Madrugam com enxada em punho
Chapéu e calças arregaçadas
Ombros curvados
Mãos calejadas
Ferramentas golpeiam o solo
Gemem as enxadas
Troa o machado
É o alfanje ceifando o capim
É o facão abrindo clareiras
Surgem pomares, hortaliças e vinhedos
Os canaviais sussurram ao vento
Crava-se a pá no barro preto
Rangem as pipas amassando a argila
Bate a forma do oleiro
Fumegam os fornos
As canoas deslizam na correnteza dos rios
Os remos gorgulham nas águas
Das entranhas retiram areias e pedregulhos
Nesta sinfonia de trabalho, São Caetano cresce
Ouve-se o cacarejar das galinhas, mugidos de bezerros
Grunhido dos porcos, ladrar dos cães
É o rufar dos pombos no céu anunciando liberdade e paz
É a vida do pequeno núcleo
A trilha se transforma em estradas
As estradas se multiplicam e se cruzam
É o chiado dos carros-de-boi
É o guizalhar dos burros
Constroem-se casinholas
Surgem quintais
Crianças brincam à sombra das árvores
Famílias crescem
Famílias se multiplicam
Famílias se entrelaçam
A cidade se desenvolve
É a sociedade sancaetanense em formação
Domingo
Cheio de mato
Missa na capela
Crianças brincam nos quintais
Macarrão da Mamma
A pizza
A fogazza
Pescar
Banhar-se no rio
Gaiola em punho
Caçar passarinhos
Bola de meia
A pelada
O botequim
Gritos e batidas na mesa
É a morra
É o truco
As bolas de madeira rolam na quadra de bocha
O Bepo
Uma sanfona
A dança
Namoro no portão
No ouvido uma palavra amável
Nostálgicos cantam o Mazzolin di Fiori
A cidade cresce
Desponta a Príncipe de Napoli
Ergue-se o campo-santo
Instala-se a primeira escola
Fundam-se clubes
O tempo passa…
Repica o sino da capela anunciando
Prosperidade
A forja
Ferro em brasa
A bigorna
O tinir do metal
Saltam chispas de fogo
É o ferro domado
O tinir do metal substitui o canto dos pássaros
Chaminés rasgam o céu
Implantam-se caldeiras
É o zumbir dos motores
É a forja, o torno, os teares
É o zunzunar das máquinas
É a industrialização
O ruído invade o silêncio
As estrelas perdem seu brilho
O azul do céu desvanece
A vegetação perde a viveza
Rios perecem
Gases industriais expulsam o hálito agreste
A natureza agredida sucumbe
Fogem os pássaros
É o apocalipse ecológico
É o progresso
São Caetano cresce
Se agiganta
É o povo construindo com amor
A grandeza de São Caetano do Sul
O Príncipe dos novos Municípios
Mário Dal’Mas
Cadeira 13 – Patrono Alberto Torres