José Roberto Espíndola Xavier

FOTO 01 - DR

José Roberto Espíndola Xavier


Patrono: Alberto de Oliveira
Cadeira 24


BIOGRAFIA

JOSÉ ROBERTO ESPÍNDOLA XAVIER – Casado com a Profª. Sonia Maria Franco Xavier  há 36 anos e pai de três filhos: Gustavo, Luciano e José Roberto. Médico pela Faculdade de Medicina da USP, campus de Ribeirão Preto, com especialização em Cirurgia Geral e do Aparelho Digestivo. Pós-graduado em Medicina do Trabalho. Membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia; Sócio-fundador do Instituto de Moléstias do Aparelho Digestivo do ABC (IMAD), sito à Rua Conceição, 746, São Caetano do Sul; Presidente da Associação Paulista de Medicina, Regional de São Caetano do Sul (2003/2008); Médico cirurgião do aparelho digestivo do Hospital São Caetano há 35 anos; Integrante do corpo clínico do Complexo Hospitalar Heliópolis (1971/2001); Diretor do Ambulatório do Hospital Heliópolis (1999/2000); Chefe da equipe de Gastroenterologia e Proctologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Caetano do Sul (1979/2000). Curador da Faculdade de Medicina do ABC (1992); Patrono Fundador das Artes de São Caetano do Sul (2000). Membro da União Brasileira de Escritores (UBE); Membro do Conselho Municipal de Saúde (de 2004 até junho/2008); Homenageado pelos serviços prestados à classe médica do ABC pelo Conselho Regional de Medicina e Associação Paulista de Medicina do Estado de São Paulo (2008); Membro da Academia Brasileira Maçônica de Artes Ciências e Letras. Autor dos livros de poesias Meu Século e Voyeur; Crônicas publicadas nos livros Um Olhar poético sobre São Caetano  e Cantos e Recantos da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul; Editorialista do jornal Olho Clínico, da APM de São Caetano do Sul, de 2003 a 2008. Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, ocupando a cadeira de número vinte e quatro, cujo Patrono é Alberto de Oliveira.

E-mail: dr.xavier@terra.com.br


BIBLIOGRAFIA

Meu Século (Poesia) 2002;
Voyeur (Poesia) 2006.


Pronunciamento de Posse do Acadêmico José Roberto Espíndola Xavier na Academia de Letras da Grande São Paulo, em 30 de Abril de 2004.

Antecedeu-me nesta cadeira, número 24, a Irmã Maria de Affonseca e Silva, mineira de Araxá, religiosa da congregação da Divina Providência. Amante das letras, era farmacêutica e professora. Escrevia com o pseudônimo de Ancila Fidelis.

Antônio Mariano Alberto de Oliveira, seu patrono, farmacêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857 e faleceu em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupou a cadeira de n° 8, cujo patrono, escolhido pelo ocupante, é Cláudio Manoel da Costa.

Era filho de José Mariano de Oliveira e de Ana Mariano de Oliveira. Sétimo filho do casal, fez os estudos primários em escola pública na vila de N.S. de Nazaré de Saquarema. Diplomou-se em Farmácia, em 1884, tendo cursado a Faculdade de Medicina até o terceiro ano. Alberto foi exercer a profissão de farmacêutico, dando nome a várias farmácias alheias. Casou-se em 1898, em Petrópolis, com a viúva Maria da Glória Rebello Moreira, de quem teve um filho, Artur de Oliveira.

Em 1892, foi oficial de gabinete do governador do Estado, Dr. José Tomás de Porciúncula. De 1893 a 1898, exerceu o cargo de diretor geral da Instrução Pública do Rio de Janeiro, cargo que se equiparava a uma atual secretaria da educação e cultura.

Com dezesseis irmãos, sendo nove homens e sete moças, todos com inclinações literárias, destacou-se Alberto de Oliveira como a mais completa personalidade artística. Ficou famosa a casa da Engenhoca, arrabalde de Niterói, onde residia, com os filhos, o casal Oliveira, e que era freqüentada, na década de 1880, pelos mais ilustres escritores brasileiros, entre os quais Olavo Bilac, Raul Pompéia, Raimundo Correia, Aluísio e Artur Azevedo, Afonso Celso, Guimarães Passos, Luís Delfino, Filinto de Almeida, Rodrigo Octavio, Lúcio de Mendonça, Pardal Mallet e Valentim Magalhães. Nessas reuniões, só se conversava sobre arte e literatura. Sucediam-se os recitativos. Eram versos próprios dos presentes ou alheios. O Parnasianismo francês estava no auge.

O Parnasianismo foi contemporâneo do Realismo-Naturalismo, estando, portanto, marcado pelos ideais cientificistas e revolucionários do período. Diz respeito, especialmente, à poesia da época, opondo-se ao subjetivismo e ao descuido com a forma do Romantismo. O nome Parnaso refere-se à figura mitológica que nomeia uma montanha na Grécia, morada de musas e do deus Apolo, local de inspiração para os poetas. A escola adota uma linguagem mais trabalhada, empregando palavras sofisticadas e incomuns, dispostas na construção de frases, atendendo às necessidades da métrica e ritmo regulares, que dificultam a compreensão, mas que lhes são característicos. Para os parnasianos, a poesia deve pintar objetivamente as coisas sem demonstrar emoção.

O soneto ressurge juntamente com o verso alexandrino, bem como o trabalho com a chave de ouro e a rima rica. A vida é cantada em toda sua glória, sobressaindo-se a alegria, a sensualidade, o conhecimento do mal. A imaginação é sempre dominada pela realidade objetiva.

Em seu livro de estréia, em 1877, as Canções Românticas, Alberto de Oliveira mostra-se ainda preso aos cânones românticos. Mas sua posição de transição não escapou ao crítico Machado de Assis num famoso ensaio, de 1879, em que assinala os sintomas da “nova geração”. O anti-romantismo vinha da França, a partir de uma plêiade de poetas reunidos no Parnaso Contemporâneo: Leconte de Lisle, Banvill, Gautier. Nas Meridionais (1884) está o seu momento mais alto no que concerne à ortodoxia parnasiana. Concretiza-se o forte pendor pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor da natureza, o culto da forma, a pintura da paisagem, a linguagem castiça e a versificação rica. Essas qualidades se acentuam nas obras posteriores. Com os Sonetos e Poemas, os Versos e Rimas e, sobretudo, com as coletâneas das quatro séries de Poesias, que se sucederam nos anos de 1900, 1905, 1913 e 1928, é que ele patenteou todo o seu talento de poeta, a sua arte, a sua perfeita mestria. Foi um dos maiores cultores do soneto em língua portuguesa. Com Raimundo Correia e Olavo Bilac, constituiu a trindade parnasiana no Brasil.

Mas a influência do Parnasianismo, sobretudo pelas figuras de Alberto e Bilac, se faria sentir muito além do término como escola, estendendo-se até o surgimento do Modernismo (1922). Machado de Assis, prefaciando seu segundo livro, Meridionais, louva a afirmação do poeta no seu lirismo e aconselha-o que dê liberdade às suas sensações e se esqueça de outras tendências, para as quais não havia nascido a sua Musa. Nesse mesmo ano de 1885 sua fama ultrapassa a corte e, aos 27 anos, Lisboa lhe tece elogios através do poeta Souza Monteiro. A grande tristeza do ano fôra a morte de sua noiva, Conceição. Nos anos seguintes, vivenciaria grandes momentos sócio- políticos da nação brasileira com a assinatura da lei Áurea e a proclamação da República.

Em 28 de janeiro de 1897, instala-se, com sua participação, a Academia Brasileira de Letras, cuja sessão inaugural deu-se a 20 de julho do mesmo ano. No dia 7 de fevereiro de 1898, aos 41 anos, Alberto de Oliveira, casa-se com Maria da Glória Rebelo, viúva de 30 anos, que tinha dois filhos: Maria Clara e José. Em 10 de março de 1901 nasce seu único filho, Artur. Ao completar 60 anos, Alberto recebe uma homenagem pública, sendo proclamado o Príncipe dos poetas brasileiros, em discurso proferido por Olavo Bilac.

Por sua longevidade, Alberto de Oliveira pôde assistir a toda evolução da sua escola poética. E o fez com a mesma grandeza, serenidade e fino senso estético que caracterizaram sua vida e obra.

Durante toda a carreira literária, colaborou também em jornais cariocas: Gazetinha, A Semana, Diário do Rio de Janeiro, Mequetrefe, Combate, Gazeta da Noite, Tribuna de Petrópolis, Revista Brasileira, Correio da Manhã, Revista do Brasil, Revista de Portugal, Revista de Língua Portuguesa. Era um apaixonado bibliógrafo, e chegou a possuir uma das bibliotecas mais escolhidas e valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasileira de Letras.

Como homenagem póstuma feita em 1937, dá nome a uma rua do bairro Bela Vista , em S. Paulo.

Pela cultura adquirida através do próprio esforço e da qual tantas mostras pôde dar, nos vários misteres que lhe foram confiados, Alberto de Oliveira fica na história dos autodidatas que enriqueceram  o patrimônio intelectual do Brasil como um dos seus mais legítimos representantes. Nascido na humildade que se alteia na dignidade de um meio enobrecido pela severidade dos costumes, o filho de Palmital de Saquarema competiu com os nomes mais celebrados das várias fases da literatura brasileira.

Alberto de Oliveira não podia compreender a vida sem a poesia. Viver, para ele, era sonhar construir, em rimas, as horas passadas na terra, ouvindo os segredos das harmonias errantes.

O biógrafo Phocion Serpa descreve assim a última noite do poeta:

“A enfermeira que o assiste em vigília ouve, espantada e sozinha, que o enfermo recita no silêncio da casa adormecida. Não! Não era o delírio. Era a despedida, a ressurreição do espírito, o anélito do coração cantando ainda o derradeiro poema à vida que ele tanto amara. Ninguém soube dizer o nome dessa poesia, a última que lhe saíra do peito à hora extrema. A mulher que a ouvira repetia, porém, que era linda!”.

Esta é a biografia de um romântico em cuja obra me identifico no lirismo da poesia que tento escrever nas poucas horas vagas.

Românticos somos todos, a muitas maneiras, explicitamente ou não, se temos os corações abertos ou mesmo empedernidos pelas vicissitudes da vida.

Muito jovem saí da velha Casa Branca, mas a marca da infância, o pensamento interiorano, permanece indelével; cala ainda profundo o calor humano das cidades pequenas. E se humanização é uma condição inalienável para a construção de um mundo mais justo, com maior dignidade e respeito à vida, a profissão que exerço oferece-me, e a todos que a professamos, inigualáveis oportunidades para este mister.

E a sensibilidade é a mãe da poesia.

Recém egresso da universidade, há mais de trinta anos, fixei residência em São Caetano, onde a proximidade com a megalópole paulistana, que propicia a especialização diferenciada, alia-se à convivência com um povo afável, que cultua suas raízes e reverencia seu passado. Que o confirme Sonia, minha esposa, há 25 anos se dedicando à história local e com quem diariamente aprendo sobre esta gente operosa.

Assim, meus amigos, adotei esta cidade. Aqui nasceram e cresceram meus três filhos: Gustavo, Luciano e José Roberto.

Aqui acompanhei o desenvolvimento fantástico que a ela implementaram extraordinárias administrações públicas, como a que termina neste ano e imortaliza pelo mais alto jaez de competência e probidade, sob maciça aprovação popular, a figura do prefeito Tortorello.

Ao caminhar por estas ruas, ao adentrar os mais diversos lugares da cidade, conhecer e ser conhecido por clientes e amigos; aqui, onde irmãos como tal me reconhecem, faz com que essa distinção que honrosamente hoje recebo, dê-me a certeza de que também fui adotado por ela.

Por isso, prefeito Tortorello, com sua permissão, nesta noite, tomarei de empréstimo os dizeres daquelas placas que ornamentam nossas ruas, para que possa, no mais profundo da minha alma, orgulhosamente, exclamar também:

São Caetano do Sul, minha cidade.

José Roberto Espíndola Xavier


Numa sacada da selva de pedra

É muito tarde e o vendaval passou. Deixou o ar despoluído e leve. Respira-se fácil. A temperatura amena acaricia as faces em brisa suave; o cheiro de molhado chega-me na sacada como ardiloso perfume de terra em cio.

No horizonte, relâmpagos distantes e insonoros são apenas luzes bruxuleantes de candeia enfraquecida e já procuro no céu alguma estrela mais atrevida.

Estou bem próximo da avenida Goiás, cujo burburinho se aquietou, a não ser por um e outro veículo ou a sirene do 199. Será da segurança ou da saúde? Ligo-me (força do hábito)

Quando não, cismo…

As árvores frondosas da praça aos meus pés, há pouco tão fustigadas pelo vento, agora meneiam em suave compasso seus ramos mais extremos, ao sabor da aragem. É um ritual de agradecimento coletivo à dádiva da água que reanima.

A velha paineira chorou copiosamente suas flores rosadas e estendeu esse pranto-manto desde o passeio da grama do jardim, que ladeia a velha prefeitura, até a entrada da minha garagem. Devolve em beleza a agressão furiosa do vento.

Logo mais, passos ligeiros conduzindo gente apressada, pisarão distraídos os mimos da natureza, sem se deterem, ao menos por alguns segundos, para apreciar tão raro espetáculo na selva de asfalto e cimento!

A saga do cotidiano, a necessidade angustiante de levar a vida, embrutece e nos aliena da ternura.

(o pragmatismo, este inimigo da filosofia e da poesia!)

– Entre as frondosas sibipirunas vê-se o prédio número 600 da avenida, na praça do Estudante.

É a casa da Lei, a casa da Memória, a casa da Educação, a casa da Benemerência…

Por muitos anos abrigou também o poder executivo.

Tenho o privilégio de viver bem perto de onde emana parte da história de São Caetano do Sul.

O olhar pervaga sobre as copas mais altas, do outro lado da rua, e repousa na concha acústica, na praça 1º de Maio, palco de tantas comemorações e onde se afinava a banda municipal para os eventos cívicos.

(Relembro o dia em que Elba Ramalho agitou uma multidão incrível que se acotovelava na área do estacionamento!)

Mais adiante está a memorável placa identificando o cedro histórico plantado por Paul Harris, quando nos visitou, em 1955.

— Gosto de contemplar este oásis verde no meio do asfalto cinéreo e rústico. Dá-me um pouco de paz interior na difícil comunhão do urbano com a natureza.

As pálpebras começam a pesar. O relógio do Shopping marca uma hora da madrugada.

Porém, não me preocupo com o tempo.

Confio nos Bem-te-vis, alegres anfitriões do desjejum, que anunciarão com estardalhaço o novo dia, acordando-me na hora certa. Foi sempre assim, há 12 anos, desde quando me mudei para cá e me tornei seu vizinho.

Têm a pontualidade de um cuco!

Hoje, quem sabe, venham também os periquitos, visitas raras mas de extrema beleza, cuja plumagem se confunde com as folhas. Há tempos não os vejo.

A simpática e pequenina curruíra prometeu que estará presente, acompanhando mais uma vez meu barbear com seu canto inconfundível.

Há também os ariscos assanhaços, discretas rolinhas pastadoras e sabiás não muito constantes. Pardais e pombos completam a fauna alada mais comum.

Recolho-me da sacada para o descanso.

Há que se estar preparado para a realidade do cotidiano, pois ela não permite o romântico nem deixa espaço para sonhos.

Antes, agradeço à Providência por estes olhos de ver, por estes ouvidos de ouvir coisas simples da vida, que mantém aquecido um coração caipira.

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