Paralisada diante da magnitude e do esplendor desta obra prima pintada com vento, colorida com folhas, flores e nuvens em diversas formatações cujas dimensões ultrapassam o imaginário da capacidade humana.
Estico o braço buscando tocar o que creio ser o paraíso, turva-me a visão o excesso de impressões e, curvada sobre meus joelhos, agradeço esta oportunidade bendita de viver o paraíso antes da finitude da mediocridade desta vida. Procuro pela moldura que aprisiona a obra e não a encontro, nada sugere aprisionamento, a totalidade encontra-se além de imagens…
Misturam-se céu e terra! O hábito faz-me buscar nesta imensa tela projetada diante de meu olhar desnudo a assinatura de seu criador, nada encontro… O vento sopra forte, abro os braços para que me toque e um clamor de fogo e luzes me incendeia e acalma simultaneamente. Estou aqui, choro pela descoberta do inusitado — diante do poder deste criador — quem poderia ter criado algo com tamanha maestria e técnicas precisas de cores, tons e tonalidades contrastantes, tridimensionalidade, principal e princípio, a viagem imaginária de captar o ponto de fuga que me permitirá o encontro em Deus. Parque Nacional da Chapada Diamantina, Morro de Santo Inácio, primeira parada desta loucura à qual me permitirei participar.
Meu destino era Cuba, finalmente conheceria a Habana e quem sabe fumaria um bom charuto cubano… Minha enorme empolgação diante dessa aventura, no entanto, preocupava-me, o inesperado alvoroça-nos a alma. É o que acontece se me defronto com meus fantasmas por crer-me dona e senhora de meu desejo e rumo nesta viagem ao desconhecimento que permeia a vida: a ideia da morte.
Um conjunto formado por canyons, vales, chapadões, cavernas e despenhadeiros; onde um tapete de vegetação se mistura aos campos floridos, cerrado, caatinga e a exuberância da mata atlântica.
A musicalidade das águas que deslizam, ora calmas e por vezes revoltas, pelos generosos ribeirões, rios, corredeiras, piscinas naturais e cachoeiras me oferecem o concerto e o maestro levanta sua batuta e inicia a Marcha Fúnebre de Chopin.
A natureza é sempre muito generosa, mas há lugares onde ela se esmera mais para mostrar aos homens sua grandiosidade.
A Chapada Diamantina é um desses lugares, um show espetacular com 84 mil km2 de belezas naturais.
O lugar onde se pode tocar Deus.
Maria Zulema Cebrian