João Bosco dos Santos

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João Bosco dos Santos


Patrono: Catulo da Paixão Cearense
Cadeira 28


BIOGRAFIA

João Bosco dos Santos é natural do município de Parnaíba, estado do Piauí, nascido no dia 5 de Novembro de 1944. Após concluir o curso médio de nível técnico, em Fortaleza, Ceará, transferiu-se para a cidade de Santo André, São Paulo, onde está radicado desde o ano de 1961. Em 1964 diplomou-se em Técnico de Contabilidade, na antiga Escola Técnica de Comércio Santo André. Posteriormente; cursou a Faculdade de Comunicação Social, do Instituto Metodista de Ensino Superior (atual Universidade Metodista de São Paulo), concluindo em 1978. Obteve o título de Mestre em Comunicação e Mercado, no ano de 2001, pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero. Dedicou-se ao ensino superior, lecionando em cursos de graduação e pós-graduação. Foi fundador e primeiro presidente do Rotary Club de Santo André-Alvorada; ex- presidente da Associação dos Amigos do Museu de Santo André; é portador da comenda “Paul Harris”, de Rotary International; é portador da Medalha Cívica “Regente Feijó”, no grau de “Cavaleiro”, outorgada pela Câmara Brasileira de Cultura. Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, desde 2002, onde ocupa a Cadeira 28.

E-mail: professor.jbosco2@gmail.com


BIBLIOGRAFIA

Escrevendo Mulheres (Crônicas) – 1999;
Falei e Disse: tudo o que você queria escrever mas não teve a oportunidade de fazê-lo (Crônicas) – 2001;
Ave de Arribação: crônicas da vida real e quejandos (Crônicas) – 2002;
Mão que afaga, mão que apedreja” (Crônicas) – 2006.


Meus velhos amigos

João Bosco

 “A amizade não é apenas necessária, mas também nobre, pois, louvamos os homens
que amam os seus amigos e considera-se que uma das coisas mais nobres
é ter muitos amigos. Ademais, pensamos que a bondade e a amizade
encontram-se na mesma pessoa.”

Aristóteles

No curto espaço de tempo de apenas um mês, despedi-me de dois velhos amigos, de forma inesperada e definitiva. Ambos na mesma faixa etária na qual me encontro, qual seja, a dos septuagenários. Já tive a oportunidade de escrever, em outra ocasião, sobre a amizade fraternal, sincera e desinteressada que algumas pessoas compartilham entre si e desses dois amigos que se foram, para habitar o Mundo de Hades, só posso reiterar que nutria por eles uma amizade franca e fraterna.

Em Ética a Nicômaco, Aristóteles discute e nos ensina o verdadeiro sentido da amizade. Um dos conceitos propostos pelo genial filósofo grego diz respeito à amizade dos que são bons. Esse tipo de amizade, para o filósofo, é a única naturalmente adquirida sendo a mais completa de todas as espécies possíveis, pois se forma entre os homens bons. A amizade perfeita é aquela que existe entre homens que são bons e semelhantes na virtude, ou seja, há a reciprocidade de caráter e de objetivos, consequentemente, portará a tendência de ser perene. Sua exigência peculiar resume-se em tempo e intimidade e a verdadeira amizade é invulnerável à calúnia. Segundo Aristóteles, o requisito essencial para a amizade é “a consciência, a qual só é possível se duas pessoas são agradáveis e gostem das mesmas coisas”. Sem querer parecer presunçoso, ouso afirmar que a amizade existida entre meus velhos amigos e eu enquadrava-se nesse pressuposto aristotélico.

O Advaldo, com quem convivi durante mais de meio século, era um homem bom e virtuoso. Conheci-o ainda bastante jovem, circunstancialmente, quando me decidi a confiar-lhe a confecção, sob medida, do meu vestuário, já que ele ensaiava os primeiros atos como profissional alfaiate, atividade na qual se destacaria durante toda a sua vida, obtendo justo e merecido reconhecimento, mercê do seu inegável talento. Manejando suas tesouras, réguas, agulhas e dedais, era um poeta. As indumentárias que saíam de suas hábeis mãos, de tão perfeitas, eram pura poesia. Ao longo do tempo, Advaldo tornou-se um dos amigos mais presentes na minha vida e na dos meus familiares, pois, convivia diuturnamente conosco e a sua presença nos enchia de alegria, dado o seu senso de bom humor sempre evidente. Separado da esposa e longe dos filhos, morava sozinho. Numa madrugada cálida de fevereiro deu seu último suspiro e seu corpo foi encontrado sobre o leito, ao que se supõe, quarenta e oito horas depois da sua morte, causando-nos uma profunda e amarga comoção.

Melo era um cearense arretado, de boa cepa, lá das bandas de Senador Pompeu, que desembarcou em São Paulo – mais precisamente em São Bernardo do Campo – nos idos de 1942, e a sua trajetória de vida em terras paulistas assemelhou-se a de tantos outros migrantes nordestinos. De origem humilde, deu duro, pegou no pesado, mas jamais deixou de perseguir o seu objetivo de tornar-se um vencedor. Quando o conheci – já em Santo André – e iniciamos uma duradoura amizade, o Melo havia atingido o seu intento e, como um idealista pro bono et bello, vinha enveredando pelas trilhas da Literatura, dedicando-se a escrever contos e a versejar, com ênfase na composição de trovas. Sim, ele adorava compor trovas e o fazia diariamente. E gostava de enumerá-las:

“Algumas verdades ditas
por pessoas esclarecidas,
apesar dos exageros
venceremos as desditas” (Trova 8259)

Habitualmente, Melo vinha até minha casa para trazer-me exemplares de um pequeno jornal onde publicava seus textos e não deixava de comparecer a encontros onde se discutia os rumos da Cultura regional. Procurava participar ativamente, embora não pudesse expressar-se com facilidade devido a uma traqueostomia realizada há tempos. Complicações advindas de problemas respiratórios acabaram por ceifa-lo do nosso convívio, dando por encerrada uma grande e duradoura amizade.

A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres
igualmente ciosos da felicidade um do outro. 

A frase de Platão sintetiza bem o que representa essa virtude. Conquanto entenda que Aristóteles tenha aprofundado a discussão, não podemos ignorar Epicuro, um grande filósofo que muito contribuiu para o pensamento ocidental. Epicuro afirmou que: “De todos os bens que a sabedoria proporciona para produzir felicidade por toda a vida, o maior, sem comparação, é a conquista da amizade”. Meus velhos amigos que se foram poderiam, sem dúvida, corroborar os dizeres do grande filósofo grego.

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