Crise na Academia Sueca – Escândalos

Celso de Almeida Cini

Celso de Almeida Cini

O Estado de São Paulo, publicou, na edição de 13/04/2018, artigo sobre escândalos resultantes  de denúncias, que perturbaram de tal modo a paz da Academia Sueca (de Letras) e  ameaçam prejudicar a normal sequência da concessão do  Prêmio Nobel de Literatura que,  anualmente, é anunciado durante o mês de outubro.

O artigo informa inicialmente que a Secretaria Permanente  da Academia, a escritora, Sara Danius, fora demitida pela Diretoria, em 12 de abril último, por decisão aprovada em sessão secreta. Provavelmente, a demitida foi responsabilizada pela crise instalada com os escândalos noticiados pelo Jornal  Degar Niheter. As várias acusações tomaram proporções nacionais, inclusive com denúncia oficial do Promotor Nacional da Suécia contra os responsáveis. O primeiro ministro do Governo sueco pronunciou-se preocupado com a crise.

As denúncias de abuso sexual, vazamento de informações e corrupção, todavia, são  todas contra o dramaturgo francês, Jean Claude Arnault que comanda o Clube Literário, entidade de cunho particular, beneficiada por financiamentos concedidos pela Academia Sueca, mas, agora, suspeitos de irregularidade, segundo o aludido Jornal. Acontece que, Jean Claude Arnault, é casado com a poeta sueca, Katarina Frostenson, membro da Academia e coproprietária da empresa que controla o Clube Literário do marido, o que constitui violação da imparcialidade na concessão de auxílios, pela Academia, aos quais Arnault tinha acesso.

Diante dos graves anúncios de corrupção, abuso sexual e vazamento de informações, o Plenário da Academia Sueca votou proposta de expulsão da poeta e membro da Academia, Katarina Frostenson,  mas a maioria dos Acadêmicos negou aprovação à proposta, mantendo a poeta como acadêmica. Revoltados, três membros vitalícios da Academia apresentaram renúncia a seus múnus (Osterguen, Espmark e Englund).  E foi, depois deste episódio, que a Diretoria decidiu destituir Sara Danius, do cargo de Secretaria Permanente..

Como se viu, além das provas de corrupção contra Jean Claude Arnault, pesam contra ele  sérias acusações  de abuso sexual, contra  nada menos de 18 (dezoito) mulheres, perpetrado nas dependências da própria Academia Sueca e, ainda, a denúncia de ter ele vazado informações oficiais e confidenciais sobre premiados do Nobel de Literatura.  A crise é grave.

Os três acadêmicos renunciantes pertencem ao grupo dos dezoito vitalícios encarregados de cuidar de todas as atividades relativas à premiação do Nobel de Literatura. Além desses três membros, há duas cadeiras vagas de membros inativos, portanto também ausentes, o que, somado às duas ausências: da Secretaria Permanente e da poeta Katarina Frostenson, completam sete membros a menos no quadro dos 18, restando  apenas 11 votos que são insuficientes para eleger novos membros, pois são necessários pelo menos 12 votos para preencher vagas. Mesmo com as renuncias, as cadeiras dos renunciantes ficariam vazias, pois a substituição só será possível com a morte deles, uma vez que o múnus é vitalício! soluções

Desse modo, o mundo aguarda com calculadas esperanças as  possíveis soluções  para devolver a paz e a serenidade à Academia Sueca, encarregada pela Fundação Alfred Nobel de realizar as cuidadosas  avaliações  para conceder anualmente, o Prêmio Nobel de Literatura, o mais aguardado a cada ano.

Crise para o mundo – Esperança para o Brasil

Como falamos em incertezas para nossos literatos brasileiros alcançarem, algum dia, boas indicações para concorrerem ao Prêmio Nobel de Literatura, o que continua sendo verdade, temos de nos render à evidência de que nem tudo está perdido.  Já nos referimos ao “Prêmio Nobel de Economia”, criado por entidades financeiras nos anos 60 do século passado e que se incorporou harmonicamente com todos os demais prêmios, concedidos pela Fundação Alfred Nobel, embora não pertença realmente ao rol dos Nobel.

Usando dessa  mesma iniciativa, Bill Gates, fundador da Microsoft, criou o “Global Teatcher Prize”, que se intitula,  o Nobel da Educação. No dia 13 de fevereiro, ele divulgou por meio de um vídeo, para todo o mundo, o nome dos dez educadores finalistas desse prêmio para 2018,  Em oportuno artigo, “Um mestre com carinho na vida real”, a notável Revista Seleções Reader ´s Digest, de abril/2018, confirma que “nessa lista constava, pela segunda vez, um representante brasileiro” (!). Diego Mahfouz Faria Lima, de 30 anos,14 dos quais dedicados à Educação. Ainda na Faculdade de Pedagogia, esse dedicado professor espelhava-se em Darcy Ribeiro como modelo e exemplo de um grande mestre. E eis que, em 2014, o professor Diego assumiu o cargo de diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, de São José do Rio Preto.

A escola era conhecida pelo alto índice de evasão escolar e pelas características de ser uma das mais violentas da região. O professor Diego Mahfouz, utilizando o tripé: ouvir os alunos, envolver a comunidade e fortalecer a cultura do diálogo, tudo associado à sua disposição, disponibilidade pessoal, coragem e fé  em seus planos, logrou sair vitorioso em dois anos de trabalho, luta e liderança, merecendo aquela indicação para o Nobel de Educação.

Diego acreditou em no  projeto social que criou: Minha escola: reconstrução coletiva que enfrentou muitas barreiras, mas contou com a persistência do jovem professor, disposto a batalhar pela transformação;  para mudar a realidade da escola. Assim, no ano de 2013, foram 202 alunos evadidos. No ano seguinte, o primeiro ano do professor Diego, esse número reduziu-se a dois. E, em 2017 as evasões  desapareceram.

Na primeira reunião com os pais dos 1.189 alunos matriculados, em 2014, houve apenas nove  (09) comparecimentos. Em 2016, na última reunião do ano, havia 900 pais, afirma o novo diretor, com orgulho. Resolveu todos os casos de bullying ou qualquer outro tipo de violência, à base do diálogo franco, dando voz às duas partes e praticando a habilidade de saber ouvir. Decidiu-se a ir pessoalmente à casa dos alunos ausentes, quando não havia justificativa para a falta. Tornou-se respeitado e amigo de seus alunos e dos pais, que, em retribuição, passaram a fazer todos os serviços de manutenção da Escola.

O sucesso do projeto lhe rendeu a indicação ao Global Teatcher Prize. A vencedora foi Andria Zafirakou, do Reino Unido, anunciada no dia 18 de março. Diego Mahfouz Faria Lima sentiu-se gratificado e orgulhoso por figurar entre os dez melhores educadores do mundo, pois concorreu com mais de 40 mil inscritos em 170 países do mundo. São muitas as ligações telefônicas para perguntar a ele qual é o segredo da Escola Darcy Ribeiro. E ele diz: É preciso mudar a visão de pais e alunos  em relação à Escola!

(*) Celso de Almeida Cini é advogado, professor, escritor, memorialista e membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, ocupando a Cadeira 37, cujo Patrono é Afonso Schmidt

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