André Aparecido Bezerra Chaves

André 06Patrono: Machado de Assis
Cadeira 06


BIOGRAFIA

Natural de São Caetano do Sul, André Chaves possui Licenciatura Plena e Bacharelado em História, Mestrado em História Social e Doutorado em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo; Pós-Graduação Lato sensu tem Filosofia e Sociologia, Antropologia e Psicologia Social, Ciências Políticas; formação em Administração de Empresas com Pós-Graduação em Gestão de Academias de Ginástica. Tomou posse na ALGRASP em 21 de julho de 2016 para ocupar a cadeira 6 cujo patrono é Joaquim Maria Machado de Assis, tendo como padrinho o escritor e médico José Roberto Espíndola Xavier, ocupante da cadeira 24 que tem como padrinho é o poeta Alberto de Oliveira. É palestrante e astrônomo amador.

Email: professorandrezao@hotmail.com
Whatsapp: (11) 9 6933-4103


BIBLIOGRAFIA

A Razão em mim poemas (2019)

Dez anos depois poemas (2017)

Contos Natalinos – Tempos de São Caetano contos (2016)

Isaac Schutemberg e os segredos da Ditadura Militar. Romance (2015)

A Revista da Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro: uma proposta para a identidade jurídica nacional brasileira. Dissertação de Mestrado em História (2015)

20 lições de liderança cristã e sucesso na equipe de trabalho com Renan Evangelista Silva. Administração de Empresas (2014)

Unimed FESP: 40 anos de História e evolução contínua com Paulo Roberto de Toledo. Memória Corporativa (2011)

Unimed 40 anos: idealismo, conhecimento e solicitude na tradição médica de Botucatu com Paulo Roberto de Toledo. Memória Corporativa (2011)

As relações de trabalho no Brasil: História e Reflexões. Historiografia (2010)

Lençóis que exalam poemas de amor. Poemas (2007)

São Luis Scrosoppi: Bicentenário de seu nascimento. Historiografia (2004)

Sem primeiros poemas. Poemas (2002)


Pronunciamento de apresentação de André Aparecido Bezerra Chaves na Academia de Letras da Grande São Paulo, proferida pelo Acadêmico José Roberto Espíndola Xavier.

Ilustríssima Acadêmica Maria Zulema Cebrian, Digníssima Presidente da Academia de Letras da Grande São Paulo
Dr. José Roberto Xavier, Vice-Presidente desta Academia
Celso de Almeida Cini, Secretário deste Sodalício
Caríssimas confreiras, caríssimos confrades
Senhoras e Senhores

“Vem! Penetra no templo das artes!
Vem! Que as portas te vamos abrir!
Vem! Que a glória te hasteia estandartes
 E te enlaça os lauréis do porvir!”

Com esses versos do grande Machado de Assis, teu patrono, recebemos-te hoje, André.

Ao permeares os umbrais desta casa de letras e tomares assento entre os amantes do “Bono e Bello”, comunga conosco o prazeroso cultuar da nossa língua mãe.

Vem!

Se é por ela, por amor ao vernáculo, que tu vens, traz contigo as preferências pelos sabores que mais te seduzem, quando expressas teus dotes de escriba.

Haveremos então de saber mais de ti, ávidos que somos por nutrir nossas almas, mentes e ideais com novos temperos do alimento que nos dás, em verso e prosa.

Vem!

Traz contigo tuas paixões por letras, coisas e gente; aquelas que nos expõem e desnudam razões incompreendidas, aptidões ocultas, esperanças acalentadas…

Ações reveladoras dos segredos e dos sonhos que plasmam a unicidade de cada ser humano, a dizer quem somos e porque assim somos.

Atentem para Fernando Pessoa, que nos agrupa e define à revelia do nosso DNA, quando diz:

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente”.

Vem!

Traz ainda os teus amores, os que podes dividir e os indivisíveis.

Pelas querências que compartilhas, forja na têmpera do melhor aço os elos de amizade que hoje te oferta esta confraria.

Nos amores indivisíveis, os da intimidade do teu bem querer, sê portador do nosso abraço carinhoso à Camila e ao recém chegado Gael.

Vem!

Que esta Casa seja um instrumento de estímulo ao teu talento.

Quando, ao tomares da pena na introspecção do escrever, nos instantes de luz e fé, possas nela te inspirar para expressares, com a lucidez dos justos e dos bons, o que dita o teu coração e, sem o deslumbramento de Ícaro, fomentar as legítimas ambições de voos mais altos.

Vem!

Que tomando as rédeas da tua história, conduzas tuas habilidades de mestre e literato com a consciência necessária de que, neste país, a condição intelectual deve ser um compromisso assumido com nosso tecido social mais vulnerável e desvalido.

Um compromisso de solidariedade na luta contra a fome do saber; contra o mais cruel dos apartheids, o da exclusão cultural.

O saber, agente libertário que constrói nossa autodeterminação, é também o mentor do livre arbítrio, assegurando que sejamos protagonistas do nosso destino.

Ninguém nos rouba o patrimônio imaterial.

Vem!

Que Deus prodigalize nos teus escritos a essência dos teus melhores pensamentos e que eles te permitam contrapor alegria à tristeza, amor ao ódio, otimismo à depressão…

Faça deles a tua contribuição para evolução da condição humana rumo ao topo da pirâmide proposta por Teilhard de Chardin, ao encontro da Consciência Maior que rege o cosmo.

“O coração humano recusa acreditar em um universo sem propósito”, segundo I. Kant.

Vem!

Assenta-te na cadeira de Machado de Assis e recebe dele os eflúvios da sua genialidade.

Coloca no peito esta medalha e junta-te a nós!

Carpe Diem!

Neste aprisco sejamos todos pastores e ovelhas, com a humildade de discernir os momentos de cada um.

Esta terra carente de adubo literário não pode prescindir daqueles que vêm em nome da arte de se expressar pelas palavras, plantar e cultivar em seu solo sementes de alforria contra as trevas da ignorância.

É preciso regá-las muito e sempre.

Nosso tempo é hoje e a nossa hora já se faz tardia. Como bem o disse Hipócrates:

“A vida é breve, a arte é longa, a oportunidade passageira, a experiência enganosa e o julgamento difícil”.

Senhoras e senhores, hoje a Academia de Letras da Grande São Paulo fica maior e melhor. Parabéns André.

Sê bem-vindo!
José Roberto E. Xavier
Cadeira 24 – Alberto de Oliveira


Pronunciamento de Posse de André Aparecido Bezerra Chaves à Academia de Letras da Grande São Paulo, em 21 de Julho de 2016, na Cadeira 06, Patrono Machado de Assis.

 

Ilustríssima Acadêmica Senhora Maria Zulema Cebrian, digníssima Presidente da Academia de Letras da Grande São Paulo,
Digníssimas autoridades presentes,
Digníssimos Acadêmicos presentes,
Senhoras e Senhores.

Até assumir a responsabilidade de ocupar a Cadeira 06 desta Academia de Letras da Grande São Paulo, cujo patrono é o imortal Machado de Assis, minha trajetória como escritor mistura-se à memória e ao esquecimento. Portanto, são justificáveis os imediatos agradecimentos a todos os que, à suas maneiras e anônimos agora, contribuíram para que meu trabalho como escritor fizesse jus a compartilhar a mesa repleta de confrades e confreiras ilustres, cujo talento na composição literária é inegável.

São-nos permitidos inúmeros prazeres nos hiatos das controvérsias do cotidiano, esta solenidade é uma experiência dessas. Não penso, contudo, que são apenas virtudes ou caprichos da vida temporal; acredito em um Deus cujo poder se experimenta na prática do amor e no sentimento de bem-estar dele decorrente. Que a existência humana seja sempre um instrumento de sua providência.

Não percebo qualquer sentido oculto nas palavras sagradas do Cristo, não encerram caminho secreto. Ensinar a seguir seus passos é obra de Pedro e Maria, meus pais, que soltaram minhas mãos ao perceberem maturidade na mente do filho, significante ao ponto de não cair na tentação das seduções mundanas e passageiras.

Hoje, ao lado de Camila, pelo amor e companheirismo incondicional, e ao carregar ao colo o pequeno Gael, a jornada tornou-se resoluta e serena.

Quis o destino que no início de 2013 eu fosse surpreendido pela amizade. Cristina Toledo de Carvalho, competente historiadora da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul, de quem tive a honra de tutelar estágio para sua licenciatura anos antes na Escola Estadual Coronel Bonifácio de Carvalho, onde leciono com orgulho, convidou-me para constituir o Conselho Diretor dessa imprescindível instituição, o que aceitei como convocação ao exercício de cidadania enquanto historiador.

Foi onde construí amizade cordial com outros onze altivos cidadãos do colegiado e com a Presidente Sônia Maria Franco Xavier. Por convite, conheci seu marido, vereador e acadêmico Dr. José Roberto Espíndola Xavier. Não somente pelo gênio afável, ao ler seus livros, constatei sua sensibilidade para perceber a natureza misteriosa das manifestações da alma humana; sua clareza para explorar em minúcias as ansiedades, contradições e realizações dela; erudição para articular a Língua Portuguesa de modo a criar obras de engenho sublime. Caráter tenaz, expressão elegante, foi talvez a mútua admiração e imediata confiança que o fez indicar meu nome para este sodalício, iniciativa à qual retribuo com honrada e notória gratulação.

A paixão devastadora aos livros, sentimento que aproxima tantos à literatura, encontrou diferentes cursos nas histórias individuais. Na minha, tem preponderância o papel dos professores. A eles, deixo o reconhecimento pela luta valorosa de suas vidas e gratidão eterna!

À leitura, seguiu o estudo da literatura. Pela primeira vez, criou-se em minha mente claro quadro da História da Literatura Brasileira e Estrangeira. Fui apresentado às obras e análises de grandes nomes, a lista é longa, embora destaque o escritor de maior influência sobre mim: Joaquim Maria Machado de Assis.

Nasceu em 21 de junho de 1839 em uma quinta do Morro do Livramento, cidade do Rio de Janeiro, filho do pintor e dourador mestiço de negro e português Francisco José de Assis e da açoriana Dona Maria Leopoldina Machado de Assis. Maria José Mendonça, dona da propriedade, foi escolhida para madrinha. Ela cativou o garoto e o apresentou às letras em sua biblioteca.

Tinha apenas uma irmã, Maria Machado de Assis, dois anos mais velha, que faleceu em 1845, no mesmo ano da madrinha e com mesma causa mortis: sarampo. Em 1849, sua mãe faleceu de tuberculose. Cinco anos depois, seu pai contraiu novo matrimônio, Maria Inês da Silva foi o novo cônjuge. Boa madrasta a mulata. Trabalhava como lavadeira, cozinheira e doceira; esforçava-se para manter a casa em ordem quando o pai partia para o trabalho ao longe. Também zelava pela retidão moral e ética do garoto, então com onze anos, que retribuía ajudando-a na venda dos quitutes.

Neste mesmo 1854, Machado de Assis foi trabalhar na tipografia de Paula Brito, na atual Praça Tiradentes. Talento precoce, teve publicado em 3 de outubro de 1854 o soneto À Ilmaª. Srª. D.P.J.A. no Periódico dos Pobres. Infância não provida de riquezas, a ausência de educação formal não impediu sua ascensão social e artística, resultado de longa e séria dedicação, na qual as potencialidades do intelecto se sobrepujaram à herança condicional do nascimento mestiço, a gagueira e a epilepsia.

Primeiro aprendiz, depois tipógrafo, até revisor de Paula Brito, até os quinze anos de idade Machado de Assis passou a escrever regularmente para os jornais Aurora Fluminense e O Paraíba de Petrópolis, além de colaborar com o Correio Mercantil. Ao longo da vida, Machado de Assis contribuiu com escritos primorosos a muitos outros jornais e revistas.

Autodidata extraordinário, conseguiu manejar a língua portuguesa com talhe magistral ao exprimir suas ideias de maneira clara, exata e rica. Também dominava o espanhol, francês e inglês, tornando-se tradutor exímio de obras majestosas como Os Trabalhadores do Mar de Vitor Hugo, Oliver Twist de Charles Dickens e O Corvo de Edgar Allan Poe. Quando sexagenário, manifestou interesse pelo grego.

Crisálidas, livro de versos, foi sua primeira obra literária, publicada em 1864, ano da morte de seu pai. Cinco anos depois, casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais na capela particular da casa do Conde de São Mamede, no Cosme Velho. Companheira que viveu ao seu lado por trinta e cinco verões e estimulava imensamente sua carreira literária.

Fundou a Academia Brasileira de Letras em 1897 e foi o seu primeiro presidente; em seu discurso de inauguração deixou claro aos acadêmicos que “a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância”. 

Em sua obra, que se estendeu por mais de dezoito mil páginas, não se contentava em desenvolver tramas ou poemas restritos às aparências, repleta de gestos medidos, bons e honestos; procura a verdade escusa na conduta humana: instintiva, orgulhosa, egoísta, vaidosa, luxúria e raivosa. Contudo, escreveu com maestria gramática; enredo sem linearidade em função da análise da consciência humana; astúcia pendular entre humor e ironia.

Seus romances iniciais – Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878) ─ apresentam lineamentos do romantismo, embora já tenham a semente da força realista que se veria amadurecida em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908).

Como cronista, ousou sutileza em comentários de fatos e situações de sua época, agregando valor inestimável a esse gênero literário, destacando-se aquelas escritas entre 1892 e 1897 para o periódico Gazeta de Notícias, sob o título A Semana. O tom reflexivo é encontrado também em sua obra poética, tais como Círculo Vicioso ou Perguntas Sem Resposta. Ponto de interesse para Machado de Assis em sua mocidade foi o teatro; mesmo sem a profundidade de outros gêneros literários, deixou peças interessantes como Quase Ministro (1864) e Os Deuses de Casaca (1866). Além de prefácios e ensaios, na crítica literária se fez presente demonstrando compreensão da importância das transformações de cada geração na realização da arte, como fez em Instinto de Nacionalidade (1873), A Nova Geração (1869) e O Primo Basílio (1878) sobre a obra homônima de Eça de Queiroz.

Foi como contista que atingiu valor descomunal. Quase a totalidade de seus mais de trezentos contos figura entre as melhores criações de história curta da literatura nacional e universal em todos os tempos, das quais não é possível deixar de enfatizar O Alienista (1881) e A Cartomante (1884).

Machado de Assis faleceu na casa do Cosme Velho em 29 de setembro de 1908, deixando como herança à humanidade sua obra literária como patrimônio cultural eterno. Com ele aprendi que não apenas a coragem enuncia uma possibilidade de tornar público passagens da criação literária, confidenciais por natureza, mas anunciar que entre as prerrogativas de sentir-se vivo encontra-se o amor à arte da escrita.

Imprime dedicação à retórica. Esta, com a finalidade original de articular, de maneira clara, estratagemas para assegurar a persuasão de ouvintes ou leitores para finalidades determinadas, tornou-se, na literatura atual, algo mais delicado: o uso da habilidade com as palavras para presentear o leitor ou ouvinte com mensagens sensíveis o suficiente para tocá-los em sua humanidade.

Isso demonstra que a performance da linguagem (o estilo, como é notadamente conhecida) traduz a escolha do idealismo do sujeito que cria o discurso, no caso da literatura, o escritor.

Tal discurso, longe passa do texto científico, fundamentalmente claro, não contraditório, instrumental; o texto artístico parte da capacidade de ser composto por emoção, sinuosidade, calor, indefinição.

O século XX transformou a educação e a cultura. Pelo fato da educação ser incorporada à política pública e a cultura ser influenciada pelos meios de comunicação de massa, a literatura, antiga manifestação da “cultura de elite”, foi acomodada na “cultura popular” ao ponto de, no início do século presente, encontrar o mercado de rede social e o livro digital através das editoras de pequena tiragem que coexistem às grandes corporações. De toda forma, a literatura avança e encontra novos apaixonados.

Diante deste quadro, concebi a ideia de tentar transmitir meu idealismo democrático e humanista. Como encontrar um estilo de retórica sem me arriscar na estética da “indústria cultural”, que tem força para alienar o ser humano da produção intelectual de gabarito, despejando formas baixas de manifestação artística sobre a população, inclusive sufocando antigas formas de manifestação da cultura popular, tradicionalmente puras e repletas de memória?

Ítalo Calvino, proeminente escritor italiano e discípulo do saudoso Jorge Luís Borges, escreveu cinco temas para conferências a serem realizadas na Universidade de Harvard em 1985. Quando estava por redigir o último texto, morreu subitamente. Os textos escritos foram publicados com o título Lezioni Americane – Sei proposti per il prossimo millenio, em 1988. Este livro ficou marcado como sua herança na teoria literária, pois apresenta valores literários que ele gostaria de ver preservados no milênio que se anunciava.

Esses valores me orientaram na forma como o leitor ocidental, no século XXI, espera o texto: leveza como elementos narrativos com força suficiente para tornar a composição literária menos tensa no que se relaciona ao embate entre linguagem culta e coloquial, além de encaminhar a trama com salutar controle das emoções até o limite das possibilidades; rapidez na continuidade lógica da narrativa, permeada pelo ritmo dos acontecimentos psicológicos e reais, o que poupa o leitor do marasmo nos detalhes insignificantes à trama, sem comprometer a qualidade da retórica; exatidão na boa definição do projeto da obra, na formação dos espaços e da trama, além da linguagem precisa; visibilidade enquanto equilíbrio entre a ótica sobre o mundo real de nossa época, a criação do universo ficcional e a retórica; multiplicidade, porque o discurso literário deve ser enriquecido por uma trama elaborada a partir de meticulosa rede de personagens que entrelaçam fatos, saberes e interesses reciprocamente condicionantes, cujo resultado seja caracterizado pela reconfiguração do entendimento do leitor a cada novo contato.

Lamento que o tema consciência jamais fosse escrito, porém, seguindo a tônica de sua obra testamentária, imagino-a como a capacidade de ser e proporcionar o desenvolvimento da capacidade de conhecer as próprias ideias, estados mentais, percepções, sentimentos ou violações, em outras palavras, o esforço do escritor em abrir diálogo com seu espírito ou proporcionar ao leitor que o faça, ampliando o conhecimento de si, julgando seus valores de maneira benevolente e crível.

Sob a égide desses valores em meus livros, com humildade, peço licença a todos os acadêmicos desta Academia e à memória dos acadêmicos que por aqui passaram, para sentar-me em uma de suas cadeiras e me empenharei em compreender a existência da linguagem coloquial, com sua importância histórica, pois apresenta-se como manifestação do ser humano, que utiliza um conjunto de elementos (entre eles sons, palavras e gestos) para criar expressões mais complexas que as demais espécies animais, mas que tornam possível a vida em sociedade, todavia, em senso comum; contribuir com a promoção e valorização da língua portuguesa normativa, fundamental para a perfeita compreensão das obras literárias que enobrecem a cultura, respeitando suas distâncias temporais e espaciais; ajudar na promoção da língua portuguesa normativa também para que o público abandone o véu de preconceitos e ideias vazias imanentes do coloquialismo habitual nas composições mais próximas do senso comum, presentes em inúmeras letras de músicas, textos jornalísticos, livros oportunistas, entre outros; cooperar na promoção da cultura e do saber do universo linguístico com ética, segundo os princípios morais que compartilhamos voluntariamente por sermos pessoas de bem; colaborar para manter intensa a memória de todos os escritores que, antes de mim, lutaram para vencer a monotonia e a ditadura estética na arte literária, quando o mundo se acinzentava e a esperança fenecia; construir, enfim, laços de amizade pelo amor que temos pela vida, pela sensibilidade, pela literatura e, completo, pela fé que temos na humanidade.

André Aparecido Bezerra Chaves
Cadeira 06 – Machado de Assis


 

SER ESCRITOR

Apresentado na Posse da cadeira 6,
Patrono Machado de Assis,
da ALGRASP.

Escrever não é um ato de espontaneidade
mas de coragem, revelação do instinto
na luta por sentir-se totalmente vivo
emancipado à mordaça da sociedade.

Nada mais ilusório que a felicidade
por ter publicado outro escrito
como se o tivesse esgotado e concluído
sem precisar complemento ou arremate.

A literatura não foge aos desígnios das Artes
mesmo na tímida dimensão do livro,
vai além da gramática e da expressividade

mostra-se como um diálogo infinito
entre o escritor, quem recria a realidade,
e o leitor, que tenta revivificar seu espírito.

São Caetano do Sul, 21 de julho de 2016.

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